Há precisamente um ano, o Estatuto Político-Administrativo dos Açores continuava a fazer 'mossa' na "cooperação estratégica" que caracterizou os primeiros anos da coabitação entre o Presidente da República e o primeiro-ministro..O diploma, que mereceu um duplo veto do chefe de Estado e originou um autêntico 'braço-de-ferro' público entre Belém e São Bento, foi promulgado já nos últimos dias de 2008..Contudo, só em meados do ano o dossier do Estatuto dos Açores ficou definitivamente encerrado, depois do Tribunal Constitucional ter chumbado duas das normas que o Presidente da República tinha classificado como "soluções absurdas"..Poucas semanas depois desta vitória 'a posteriori' de Cavaco Silva, o clima de mal-estar entre Belém e São Bento voltou a adensar-se com o chamado caso das escutas, com o jornal Público a fazer manchete com suspeitas da Presidência da República de estar a ser "vigiada" pelo Governo..Segundo o jornal, esse clima instalou-se depois de declarações dos dirigentes do PS José Junqueiro e Vitalino Canas a denunciar que havia assessores de Cavaco Silva a participarem na elaboração do programa do PSD..A polémica voltou ao centro do debate durante a campanha das legislativas quando o Diário de Notícias noticiou que a fonte do Público seria Fernando Lima, um dos mais fiéis colaboradores de Cavaco Silva nas últimas duas décadas..Dias depois, Lima era afastado da assessoria para a Comunicação Social de Belém, mas só após as eleições Cavaco Silva falou, acusando "destacados personalidades do partido do Governo" de manipulação e de tentarem colar o Presidente ao PSD com o objectivo de desviar as atenções..Entretanto, nas últimas semanas, o tom voltou a subir, com dirigentes socialistas a tentarem envolver o Presidente da República na estratégia de dramatização sobre a governabilidade, e o chefe de Estado a recusar entrar em "jogos que possam aumentar a tensão" no país..Já este fim-de-semana, e depois do chefe de Estado ter dito que a sua atenção está noutros problemas que não o casamento homossexual, o PS elevou o tom, acusando Cavaco Silva de se "intrometer" na agenda socialista e advertindo que, se fizer "coro" com a oposição de direita, colocará em causa a estabilidade política..Há dois dias, na sequência de notícias sobre um alegado desagrado por parte de Cavaco Silva por José Sócrates ter estado ausente quarta-feira da cerimónia de posse dos novos conselheiros de Estado, o gabinete do PM disse "já não estranhar a intriga mesquinha que, a propósito e a despropósito, é colocada nos jornais contra o primeiro-ministro". .Belém respondeu de pronto: "O relacionamento do Presidente da República com o primeiro-ministro é do domínio reservado. A Presidência da República não alimenta intrigas montadas para desviar as atenções".